Passei o fim-de-semana, rodeada
de grandes educadores. Um dom inestimável, mas não um acaso. Procuro estas
ocasiões porque tenho claro que só educo se me deixo educar.
Desta vez, fiquei desafiada por
uma certa professora de Português e Francês, que ensina numa escola estatal de
uma pequena cidade nortenha. Contava-me que via o ensino do Francês perder
terreno em relação ao Espanhol. Na sua opinião, o motivo é apenas a facilidade
da língua espanhola, mais parecida com a nossa. Entende que o Francês é mais
enriquecedor para os alunos, mais diferenciador no seu currículo e mais
interessante do ponto de vista académico, pelo que resolveu ir à luta e juntar
os alunos com ela.
Impressionou-me o seu entusiasmo,
tão genuíno, e livre de qualquer pretensão de carreira. Esta Professora é das
mais antigas da escola e também dá Português, pelo que a perda de turmas de
Francês não lhe causa nenhum prejuízo laboral. Tem várias razões de ordem
profissional e pessoal para não se dar a mais trabalhos do que os legalmente
exigidos. Mas olha-se para ela e percebe-se que estes discursos, laborais,
legais e outros que tais, não têm nada a ver com a sua paixão educativa.
Criou a “Semaine de la Francophonie”, cheia de eventos. Os alunos fartam-se
de trabalhar e estão radiantes. Um dos destaques são os crepes, que eles
cozinham e vendem, apresentando-se impecáveis nos seus aventais bleu-blanc-rouge. Além do sucesso
gastronómico, o lucro paga todos os gastos, incluindo os ditos aventais. O
outro destaque é a apresentação de um filme francófono. O que há de especial é
que o filme não é projetado na escola, mas sim no auditório municipal, com uma
sessão em horário escolar e outra mais tardia para as pessoas da cidade poderem
assistir. Um impacto cultural que provoca e atrai.
Mas a professora é conhecida por
ser exigente. E aqui há tempos vieram uns resultados nada animadores, com
vários alunos abaixo do seu potencial. A professora ralhou. Um dos alunos
perguntou: “Porque é que nos trata assim?”. “Assim como?” perguntou ela.
“Ralha, mas depois está sempre connosco a fazer coisas”. Com a prontidão com
que faz crepes bem franceses, respondeu: “É porque gosto muito de vocês”.
Neste fim-de-semana, a Professora
de Francês nortenha e eu, juntamente com umas centenas de pessoas, lembrávamos
um grande educador: um padre italiano que, nos anos 50, em plena crise de
certezas, deixou o ensino da Teologia no seminário para dar aulas de Religião
numa escola secundária. O que começara como um gesto aparentemente
insignificante gerou um movimento de jovens e, mais tarde, de adultos, que
passou as fronteiras do país e cresce, geração atrás de geração. Um dia,
abordado por um jornalista, à porta de um evento, onde era esperado com
entusiasmo por milhares de pessoas, à pergunta de “porque é que o seguem
assim?”, respondeu, com um sorriso alegre e uma voz firme: “porque acredito no
que digo”.
Começo esta semana, pedindo para
viver assim. De modo que aquilo que digo, faço e sou brote da riqueza daquilo
em que acredito. Como o padre italiano. E o amor aos meus alunos me torne
criativa e incansável. Como a professora de Francês.
Madalena Fontoura
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