23 de fevereiro de 2015

Um coração grande e indomável, por Madalena Fontoura


Três histórias dos últimos dias:
Primeira – apresentando o Colégio a uns Pais, chegámos ao momento de falar da aliança com a família. Disse-lhes que a filha deles é um tesouro que eles só podem confiar a alguém que estimem. E que também nós só podemos educar uma criança, com estima pelos Pais. Que não somos cliente e fornecedor, mas adultos que iniciam um caminho de amizade em torno da belíssima tarefa de educar uma criança. Prometi-lhes que a abraçaremos tal como é, com mais, ou menos, saúde, inteligência, bom comportamento. Que tudo enfrentaremos juntos.
O Pai, que estava mais calado, disse-me: “acho que tenho que lhe mostrar a fotografia da minha filha”. Puxou do telemóvel e ali ficámos os três a desfiar imagens de uma criança risonha e cheia de vida, enquanto eu me comovia por aquele gesto: acabar a conversa a olhar para a criança concreta que ali nos juntava foi um primeiro passo de comunhão.
Segunda – uma Mãe testemunha num encontro de diretores de escolas católicas. Alguém pergunta se não se estará a exigir demais destas escolas, chamadas a ir bem para lá da sua responsabilidade académica. A resposta vem clara e pronta: sim, as famílias têm cada vez mais necessidade de ajuda, esperam muito, pedem tudo. Cabe à escola decidir até onde está disposta a responder.
Terceira – recebo uma mensagem de agradecimento do Pai de uma das alunas com quem passei o fim-de-semana de Carnaval: “assim a minha filha cresce como eu sempre imaginei”.
Lembro-me de Péguy: um homem de 40 anos pode ter desistido de ser feliz, pode ter-se tornado cético e cínico, mas, diante de um filho que nasce, deseja para ele o que já não consegue desejar para si mesmo.
É este desejo que encontro diariamente nos Pais dos meus alunos. Sob as mais diversas formas, da defesa à partilha, da reivindicação ao reconhecimento, da intranquilidade à confiança. Desafio-me a tê-lo como ponto de partida, como critério de exigência, como grito pela totalidade, como esperança inquebrantável. Preciso de maternidade e paternidade para ir ao fundo da missão que me está confiada.
Às vezes, não poucas, olhando assim para as famílias, sem barreiras, sem esquemas formais, sem justificações, acontecem encontros profundos, que vão para lá do que se passa com os filhos e em que me vejo chamada também eu a ser Mãe. Dos pequenos e dos grandes.

Começo esta semana grata por todas as Mães e todos os Pais dos meus alunos. Desejando aprender com a potência do seu amor pelos filhos. E pedindo para mim “um coração grande e indomável, que nenhuma ingratidão possa fechar e nenhuma indiferença possa cansar” (Grandmaison).

Madalena Fontoura

Sem comentários:

Enviar um comentário