16 de setembro de 2015

Não a encontrei mas vi os sinais da sua presença!, por Catarina Almeida

Tenho um amigo que mora longe. Aliás, tenho vários. E sinto muito a falta de todos eles. Sentir a falta de um amigo, sentir a sua ausência na pele e, às vezes, com um nó na garganta, é um facto curioso: como me faz muita falta, faço tudo o que posso para o encontrar com frequência, para o ver, o ouvir, saber dele. Sentir a falta da presença dos meus amigos é, paradoxalmente, um recurso valioso. Provavelmente o maior que tenho.

Como este amigo não mora assim tão longe (não como outros, noutros continentes, e outros até no Céu), fui visitá-lo no Verão ele contou-me um episódio simples.

Como todos tinham ido de férias, o meu amigo pensou que a casa não estaria tão limpa e arrumada como ele gostaria para me receber. Apressou-se a organizar a melhor maneira de tratar do assunto mas, quando chegou a casa, estava imaculada. Reparou então que a senhora das limpezas tinha estado lá em casa. Encontrou-a depois na rua e disse-lhe «Reparei que esteve em minha casa! Não a encontrei mas vi os sinais da sua presença!». Este pequeníssimo facto não teria nada de extraordinário se não me tivesse sugerido o ponto-chave para este ano de trabalho…

Percebi que, para propor alguma coisa capaz de desafiar a razão e a liberdade dos meus alunos, é preciso dar dois passos: o primeiro, darmo-nos conta – eu e eles – de que nos falta alguma coisa. O sentimento de incompletude que tentamos disfarçar é o ponto de partida para começar um caminho de descoberta. O segundo passo é a estrada por percorrer. Será, então, uma aventura cheia de momentos em que a realidade é nossa aliada, porque está cheia de fenómenos físicos e naturais, de obras de arte, de desafios culturais que exigem de nós uma hipótese de explicação, uma linguagem específica, uma técnica especializada…

A complexidade dos saberes, a diversidade dos temas e a Beleza que em tudo se encontra são os traços característicos desse Alguém que fez tudo o que existe, que nos fez inteligentes, capax Dei e que deseja a nossa felicidade.
Afinal, o que são as disciplinas, as matérias e os conhecimentos que proponho ano após ano aos meus alunos, senão um caminho para encontrar os sinais da presença de Alguém?...


Catarina Almeida

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