Vem um professor novo para uma das actividades de fim de
dia. Marquei um encontro para o conhecer. Sempre partindo desta alegra e
esperançosa convicção de que a comunhão dos adultos é, em si mesma, educativa,
eloquente, fecunda.
Apareceu-me um rapaz muito novo com um ar simples e
discreto. À medida que o ouvia, descobria-o verdadeiro, límpido, sem grande dom
de palavra, mas com uma abertura desarmante. Lá falámos dele, da sua
experiência profissional, da sua disponibilidade para a tarefa em causa.
A certa altura da conversa, provoquei-os com perguntas sobre
o sentido da vida. Olhava-me de olhos esbugalhados, como se fosse a primeira
vez que alguém lhe falava no tema. Parecia querer ir ao encontro do que eu lhe
perguntava, mas nitidamente não sabia como. Nunca tinha pensado naquilo, mas
estava disposto a aprender. Como se fosse uma cláusula laboral.
Não era nada disso, lá o descansei. Queria era desafiar a
humanidade dele e a minha. Educar miúdos, abre-nos uma ferida no peito que não
nos deixa ficar pela rama, pela técnica. O que é que temos para lhes dar se não
sabemos quem somos? Como fazê-los ir mais longe e ficarmos nós pelo caminho?
Como conformar-nos com a superficialidade das competências e com a adequação
social e cidadã? Como não perseguir a verdade sobre eles e sobre nós próprios?
Ele tinha-se desencostado da cadeira, tinha os olhos cada
vez mais abertos e fixos em mim. E de repente dispara: “Mas acha que ainda vou
a tempo?”
Não me lembro bem que fim dei à conversa. Só sei que desde
aí a pergunta passou a ser minha: Será que ainda vou a tempo?
A tempo de desejar ardentemente o bem, de modo a que o pouco
não me baste. A tempo de me deixar atingir pelo grito que clama na humanidade
dos que sou chamada a educar. A tempo de me surpreender com o que acontece. A
tempo de escutar os novos. E os que julgo já conhecer. E os velhos. A tempo de
não desperdiçar nenhum sinal.
Começo este ano letivo com esta pergunta, este pedido, este
desejo. E esta esperança. Deve andar por aqui o desafio da misericórdia que o
Papa lança este ano. Talvez não esteja tudo perdido. Talvez ainda vá a tempo.
Madalena Fontoura
Sem comentários:
Enviar um comentário