21 de setembro de 2015

Ainda vou a tempo?, por Madalena Fontoura

Vem um professor novo para uma das actividades de fim de dia. Marquei um encontro para o conhecer. Sempre partindo desta alegra e esperançosa convicção de que a comunhão dos adultos é, em si mesma, educativa, eloquente, fecunda.
Apareceu-me um rapaz muito novo com um ar simples e discreto. À medida que o ouvia, descobria-o verdadeiro, límpido, sem grande dom de palavra, mas com uma abertura desarmante. Lá falámos dele, da sua experiência profissional, da sua disponibilidade para a tarefa em causa.
A certa altura da conversa, provoquei-os com perguntas sobre o sentido da vida. Olhava-me de olhos esbugalhados, como se fosse a primeira vez que alguém lhe falava no tema. Parecia querer ir ao encontro do que eu lhe perguntava, mas nitidamente não sabia como. Nunca tinha pensado naquilo, mas estava disposto a aprender. Como se fosse uma cláusula laboral.
Não era nada disso, lá o descansei. Queria era desafiar a humanidade dele e a minha. Educar miúdos, abre-nos uma ferida no peito que não nos deixa ficar pela rama, pela técnica. O que é que temos para lhes dar se não sabemos quem somos? Como fazê-los ir mais longe e ficarmos nós pelo caminho? Como conformar-nos com a superficialidade das competências e com a adequação social e cidadã? Como não perseguir a verdade sobre eles e sobre nós próprios?
Ele tinha-se desencostado da cadeira, tinha os olhos cada vez mais abertos e fixos em mim. E de repente dispara: “Mas acha que ainda vou a tempo?”
Não me lembro bem que fim dei à conversa. Só sei que desde aí a pergunta passou a ser minha: Será que ainda vou a tempo?
A tempo de desejar ardentemente o bem, de modo a que o pouco não me baste. A tempo de me deixar atingir pelo grito que clama na humanidade dos que sou chamada a educar. A tempo de me surpreender com o que acontece. A tempo de escutar os novos. E os que julgo já conhecer. E os velhos. A tempo de não desperdiçar nenhum sinal.

Começo este ano letivo com esta pergunta, este pedido, este desejo. E esta esperança. Deve andar por aqui o desafio da misericórdia que o Papa lança este ano. Talvez não esteja tudo perdido. Talvez ainda vá a tempo.

Madalena Fontoura

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