28 de setembro de 2015

Não estão todos enganados, por Madalena Fontoura

Era a segunda aula de Religião do 7º ano. Da primeira tinha ficado a seguinte pergunta para eles pensarem em casa: “Tendo ou não tendo fé, que sinais encontras no mundo da existência de Deus?”
As respostas foram as mais variadas: a Bíblia, o Sudário de Turim, as Aparições de Fátima, o Papa Francisco, algumas doenças na família curadas depois de muita oração, a beleza da Natureza, os mártires, os registos romanos do nascimento de Jesus e por aí adiante.
Havia uma clara confusão entre Deus e Jesus, entre o sentido religiosos e a fé, já se sabe. Mas temos tempo para ir trazendo isso à luz, nas próximas aulas.
A novidade veio de alguns dos argumentos usados. Vários alunos disseram que se há tanta gente que acredita, que escreveu e que até deu a vida, com certeza não estão todos enganados.
Foi isso que me impressionou. Especialmente conhecendo alguns dos que o disseram, que estão longe de ser dóceis, crédulos ou ingénuos. Muito pelo contrário.
Girl at the Window, Balthus
Conscientes disso, ou talvez não, os meus alunos de 12 anos colocavam-se diante da tradição recebida numa atitude de confiança e de razoabilidade. A primeira posição não era a suspeita, mas sim a de partir de uma hipótese positiva. O ponto de partida era aceitarem, com naturalidade, o testemunho dos que os precederam como alguma coisa de significativo e a ter em conta.
Depois não faltou vivacidade para a verificação. A discussão foi riquíssima e deu para uma aula inteira, interessante e participada – e era sexta-feira à tarde!
Fiquei a pensar no desafio que é educar assim, especialmente dar aulas de Religião assim: partindo de uma hipótese explicativa da realidade e provocando uma verificação na primeira pessoa. Como é tão mais fácil fazer só a primeira coisa e prescindir deles, ou fazer só a segunda e deixar tudo entregue à reatividade.

Começo a semana, grata pela limpidez dos meus alunos do 7º ano, desejosa de cultivá-la e com a provocação de também criar em mim uma posição adulta que, resistindo à tendência geral de suspeita e desconfiança, se conserve acolhedora e limpa, em todos os encontros, em toda a aventura do conhecimento. 

Madalena Fontoura

Sem comentários:

Enviar um comentário