Ninguém pode
deixar de reconhecer o génio comunicativo do Papa Francisco, cujo rosto tem
conquistado as peças de abertura de inúmeros telejornais e as capas das
revistas mais impensáveis. Há porém quem questione se este carisma terá também
uma correspondente capacidade educativa, quer para quem está disponível a
acolher a mensagem católica, quer para quem se encontrar mais afastado da
mesma. Ao meu ver, o Papa Francisco, que entre outras coisas já foi professor
de literatura, tem uma preocupação consciente e evidentemente pedagógica.
Antes de
mais, basta observar a força dos seus gestos para intuir essa inquietação.
Recentemente, ele próprio afirmou: «Um cristão vê-se não tanto por aquilo que
diz, mas por aquilo que faz, pela forma como se comporta» (Angelus 9/11/2014).
Por isso, comprovamos que os seus comportamentos, mesmo quando improvisados,
são observados com atenção por todos e muitas vezes desejam ser exemplares de
forma consciente.
Raramente as
ideias que Francisco quer exprimir são apresentadas de forma dogmática e
categórica. Prefere, com um gesto ou com uma frase não escrita, partir dum
facto concreto: um cartaz que alguém está a mostrar, uma pessoa que se lhe
aproxima, as reacções da multidão que o escuta... E esses factos, que não
exigem uma definição, tornam-se uma espécie de “encarnação” do conceito ou do
valor que está a ser comunicado, nesta modalidade muito mais eficaz.
Para o Papa
Francisco, Deus, Jesus Cristo, a Igreja, são presenças reais na vida concreta.
Por isso, não são sujeitos de definições, ou de reduções a preceitos morais.
São experiências presentes na vida concreta, capazes de pôr em discussão o
discurso que já se tinha escrito ou a imagem que se tinha formado do evento da
sua agenda. A sua insistência nessa base, naquilo que é “essencial”, deixa
depois todo o espaço à riqueza e variedade das manifestações da verdade, que
pode encarnar em qualquer forma externa, cultural ou social.
Ao mesmo
tempo, a sua proposta não é nunca personalista. Espantou-me, por exemplo, que
celebrasse o seu primeiro aniversário de pontificado fora do Vaticano: num
“retiro espiritual”. Não é a sua pessoa que está no centro, como no caso de
qualquer bom educador.
Por último,
parece-me que o génio educativo de Francisco reside precisamente na sua humilde
capacidade de realizar gestos educativos, quase sem que nos apercebamos de que
é isso que está a acontecer. A sua linha pedagógica procura um desenvolvimento
natural, sem que se produzam choques ou incompreensões. Correndo o risco de
simplificar o discurso, pretende chegar a todos na medida em que cada um pode
perceber e está disponível a acolher a novidade que quer ser transmitida.
Assim, Francisco educa sem que estejamos plenamente conscientes disso.
P. Luis Miguel Hernández
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