15 de janeiro de 2015

O génio educativo do Papa Francisco, por P. Luis Miguel Hernández

Ninguém pode deixar de reconhecer o génio comunicativo do Papa Francisco, cujo rosto tem conquistado as peças de abertura de inúmeros telejornais e as capas das revistas mais impensáveis. Há porém quem questione se este carisma terá também uma correspondente capacidade educativa, quer para quem está disponível a acolher a mensagem católica, quer para quem se encontrar mais afastado da mesma. Ao meu ver, o Papa Francisco, que entre outras coisas já foi professor de literatura, tem uma preocupação consciente e evidentemente pedagógica.


Antes de mais, basta observar a força dos seus gestos para intuir essa inquietação. Recentemente, ele próprio afirmou: «Um cristão vê-se não tanto por aquilo que diz, mas por aquilo que faz, pela forma como se comporta» (Angelus 9/11/2014). Por isso, comprovamos que os seus comportamentos, mesmo quando improvisados, são observados com atenção por todos e muitas vezes desejam ser exemplares de forma consciente.


Raramente as ideias que Francisco quer exprimir são apresentadas de forma dogmática e categórica. Prefere, com um gesto ou com uma frase não escrita, partir dum facto concreto: um cartaz que alguém está a mostrar, uma pessoa que se lhe aproxima, as reacções da multidão que o escuta... E esses factos, que não exigem uma definição, tornam-se uma espécie de “encarnação” do conceito ou do valor que está a ser comunicado, nesta modalidade muito mais eficaz.

Para o Papa Francisco, Deus, Jesus Cristo, a Igreja, são presenças reais na vida concreta. Por isso, não são sujeitos de definições, ou de reduções a preceitos morais. São experiências presentes na vida concreta, capazes de pôr em discussão o discurso que já se tinha escrito ou a imagem que se tinha formado do evento da sua agenda. A sua insistência nessa base, naquilo que é “essencial”, deixa depois todo o espaço à riqueza e variedade das manifestações da verdade, que pode encarnar em qualquer forma externa, cultural ou social.

Ao mesmo tempo, a sua proposta não é nunca personalista. Espantou-me, por exemplo, que celebrasse o seu primeiro aniversário de pontificado fora do Vaticano: num “retiro espiritual”. Não é a sua pessoa que está no centro, como no caso de qualquer bom educador.


Por último, parece-me que o génio educativo de Francisco reside precisamente na sua humilde capacidade de realizar gestos educativos, quase sem que nos apercebamos de que é isso que está a acontecer. A sua linha pedagógica procura um desenvolvimento natural, sem que se produzam choques ou incompreensões. Correndo o risco de simplificar o discurso, pretende chegar a todos na medida em que cada um pode perceber e está disponível a acolher a novidade que quer ser transmitida. Assim, Francisco educa sem que estejamos plenamente conscientes disso.

P. Luis Miguel Hernández

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