O que é a felicidade? O desafio
partiu de uma exposição que esteve recentemente em Lisboa: “Sete mil milhões de
outros”. Pessoas muito variadas, em idade, cultura, nível de vida e país onde
vivem, respondiam brevemente a algumas perguntas. E uma era esta.
Numa assembleia com alunos do 7º
ao 9º ano, passámos o vídeo das perguntas sobre a felicidade. A seguir, quisemos
ouvir os comentários deles e os testemunhos que mais os tinham provocado e
porquê. As respostas foram de uma grande e rica diversidade. No fim lançámos a
ideia de recolher os depoimentos deles sobre a felicidade para vermos numa
próxima assembleia.
Foi aí que aconteceu uma coisa
grande. Uma professora sugere aos outros: “Antes dos miúdos, fazia sentido que
fôssemos nós a responder a esta pergunta”. Quando uma ideia é muito boa e parte
de um juízo mesmo verdadeiro, não há como travá-la. E assim, numa semana, foi
improvisado um estúdio, houve professores que se revezaram como operadores de
câmara, realizadores editores e produtores. E quase todos, professores e outros
adultos da escola, aceitaram responder a esta pergunta.
A assembleia seguinte foi um
momento comovente. Os alunos estavam espantados e curiosos, ouvindo, um por um,
todos aqueles testemunhos sobre a felicidade: uns falavam da sua família, outros
misturavam episódios agradáveis com reflexões mais profundas, alguns tiveram
muita criatividade e muito sentido de humor, houve os que testemunharam a sua
fé, uns falaram muito, outros disseram poucas palavras.
Impressionou-me que aceitassem
expor diante de todos, com alegria e inteireza, uma coisa tão decisiva e tão
reveladora como é a própria experiência de felicidade. Enquanto seguia aquele
vídeo, tão simples e doméstico, provocavam-me até às entranhas aquelas dezenas
de educadores a oferecerem-se assim, dando literalmente a vida aos seus alunos.
Agora, sim, vai ser a vez deles. Mas responderão tendo na memória os rostos, as
vidas, as palavras, os testemunhos dos mais velhos.
Neste gesto, aparentemente
insignificante, traduz-se, com eloquência, o que é a educação: um adulto que arrisca
propor-se a si mesmo, na relação com aqueles que lhe são confiados, dando-lhes
tudo o que tem e esperando, humilde e pacientemente, que os mais novos
verifiquem se lhes serve o que, com tanto amor, lhes foi dado.
E talvez se exprima, com igual
eloquência, o que é a felicidade. Como dizia um dos personagens de Claudel, de
que serve a vida, se não for para ser dada?
Madalena Fontoura
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