13 de outubro de 2015

O que é a felicidade?, por Madalena Fontoura

O que é a felicidade? O desafio partiu de uma exposição que esteve recentemente em Lisboa: “Sete mil milhões de outros”. Pessoas muito variadas, em idade, cultura, nível de vida e país onde vivem, respondiam brevemente a algumas perguntas. E uma era esta.
 
Numa assembleia com alunos do 7º ao 9º ano, passámos o vídeo das perguntas sobre a felicidade. A seguir, quisemos ouvir os comentários deles e os testemunhos que mais os tinham provocado e porquê. As respostas foram de uma grande e rica diversidade. No fim lançámos a ideia de recolher os depoimentos deles sobre a felicidade para vermos numa próxima assembleia.
Foi aí que aconteceu uma coisa grande. Uma professora sugere aos outros: “Antes dos miúdos, fazia sentido que fôssemos nós a responder a esta pergunta”. Quando uma ideia é muito boa e parte de um juízo mesmo verdadeiro, não há como travá-la. E assim, numa semana, foi improvisado um estúdio, houve professores que se revezaram como operadores de câmara, realizadores editores e produtores.  E quase todos, professores e outros adultos da escola, aceitaram responder a esta pergunta.
 
A assembleia seguinte foi um momento comovente. Os alunos estavam espantados e curiosos, ouvindo, um por um, todos aqueles testemunhos sobre a felicidade: uns falavam da sua família, outros misturavam episódios agradáveis com reflexões mais profundas, alguns tiveram muita criatividade e muito sentido de humor, houve os que testemunharam a sua fé, uns falaram muito, outros disseram poucas palavras.
 
Impressionou-me que aceitassem expor diante de todos, com alegria e inteireza, uma coisa tão decisiva e tão reveladora como é a própria experiência de felicidade. Enquanto seguia aquele vídeo, tão simples e doméstico, provocavam-me até às entranhas aquelas dezenas de educadores a oferecerem-se assim, dando literalmente a vida aos seus alunos. Agora, sim, vai ser a vez deles. Mas responderão tendo na memória os rostos, as vidas, as palavras, os testemunhos dos mais velhos.
 
Neste gesto, aparentemente insignificante, traduz-se, com eloquência, o que é a educação: um adulto que arrisca propor-se a si mesmo, na relação com aqueles que lhe são confiados, dando-lhes tudo o que tem e esperando, humilde e pacientemente, que os mais novos verifiquem se lhes serve o que, com tanto amor, lhes foi dado.
 
E talvez se exprima, com igual eloquência, o que é a felicidade. Como dizia um dos personagens de Claudel, de que serve a vida, se não for para ser dada?
 
Madalena Fontoura

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