15 de outubro de 2015

Conhecer a realidade segundo a totalidade dos seus fatores, por José Feitor

Na semana passada confrontei-me com um assunto que muito me tem intrigado: por que razão os meus alunos não se interessam por ciências tão apaixonantes como a Geologia?
Enquanto tentava mostrar a beleza que o Homem pode tirar da interpretação das rochas, o Francisco, num tom irónico, disse: «muito interessante».
Parei tudo naquele momento. O que estava eu a fazer para que um aluno não consiga, no mínimo, interessar-se pelo assunto que eu, com tanta paixão, lhe estava a tentar explicar? Como é possível que um miúdo de 13 anos afirme que o que lhe estou agora a ensinar não lhe vai servir para nada na vida? Para alguns alunos, que não têm qualquer ideia do que desejam ser, a escolha de conteúdos interessantes faz-se, segundo eles, a pensar no futuro mas o que verdadeiramente estão a fazer é a resolver uma satisfação imediata do presente.
Contei-lhes a história da Mafalda. A Mafalda é uma antiga aluna minha. Aluna desafiante porque, se havia disciplina que ela detestava era, definitivamente, Ciências. Passaram 4 anos desde que lhe dei aulas e, ao longo destes anos, estava, na minha cabeça, totalmente resolvido que a Mafalda nunca iria seguir nenhum curso nesta área. Encontrei-a este sábado.
Entrou na FMH em Reabilitação Física. Está a ter Anatomofisiologia e, passado este tempo, começa a descobrir a pertinência do que lhe tentei explicar nas aulas de Ciências Naturais...
Será que o problema é realmente a utilidade imediata ou futura dos assuntos que ensinamos? Olhem a Mafalda. Dizia a mesma coisa e, no entanto, lá está ela a decorar os 22 ossos da cabeça humana e os cerca de 639 músculos do corpo!
Peço para mim o que quero para os meus alunos: uma abertura de espírito para continuar a desejar compreender toda a realidade, quer veja um interesse imediato ou não.​
José Feitor

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