9 de fevereiro de 2015

Certeza e Missão, por Madalena Fontoura

Por estes dias, há uma sucessão de datas que nos fazem pensar na escola católica: 28 de janeiro, dia de São Tomás, 31 de janeiro, dia de São João Bosco, 4 de fevereiro, dia de São João de Brito.
Porque é se fizeram escolas ao longo da História da Igreja? E porque é que continuam a fazer-se hoje? Na origem de cada uma está sempre uma missão e uma certeza.

A missão é uma paixão pelo humano. Uma paixão única e inconfundível, muito mais do que uma inclinação de personalidade, ou um interesse profissional. É a paixão de quem olha o outro, a partir da própria experiência de ter sido elevado, tornado novo, redimido.
Cristãos tornam-se fundadores, freiras e monges fazem-se professores, raparigas e rapazes seguem vocações de entrega à educação, mentes brilhantes aceitam trilhar a estrada humilde e grandiosa do ensino aos mais novos. Todos têm em comum sentir-se feridos pela pobreza. Não só a pobreza de quem não tem pão ou teto, mas a falta de horizonte, de conhecimento do mundo, de ferramentas para ler a realidade e entendê-la.

A certeza é aquela ingénua e potente, humilde e segura, comovida e alegre confiança, que nos vem de saber três coisas: fomos criados pela iniciativa de Deus e por isso sabemo-nos amados, necessários e herdeiros de tudo o que existe; toda a realidade é criação de Deus e por isso foi feita à medida da nossa capacidade de a conhecer e compreender; fomos salvos e por isso nenhum erro, da inteligência ou da vontade, tem a última palavra.
As escolas com que a Igreja enriqueceu o mundo foram sendo lugares de encontros fecundos entre mestres e aprendizes, lugares de crescimento humano e de liberdade criadora.

O desafio mantém-se. A pobreza de conhecimento já não é o analfabetismo ou a impossibilidade de ir à escola, mas a tendência para aceitar como certo tudo o que é de apropriação fácil e formulação atraente; a tentação de se contentar com o superficial e não ir mais fundo; o brilho do falso; o ruído do oco.
Por isso o desafio da escola católica hoje é mais do que ensinar com métodos eficazes, ou catequizar em paralelo com o ensino. O desafio é o da verdade. A verdade das coisas, o seu significado, a sua relação umas com as outras. O desafio é libertar-nos do fascínio pelo nada, que ocupa o espírito e condiciona a vontade. O desafio é repovoar o presente com o legado dos “gigantes” que nos precederam para que não nos pensemos desligados, à deriva, sozinhos.

O desafio está nas leituras que propomos, na história que contamos, no modo como fazemos ciência, na arte que ensinamos. O desafio está nas sugestões de tempo livre.

O desafio está, por isso, antes de mais, no que lê, no que vê, no que se dispõe a aprender, no que vive, o próprio professor. E essa é hoje uma das grandes marcas da escola católica: ser um lugar de encontro, onde os adultos se estimam e descobrem amigos, porque mutuamente se encorajam a não se deter, a ir mais além. Pelo bem dos seus alunos e pelo seu próprio bem.


Começo a semana, querendo conservar limpas a certeza e a missão que me fazem amar a escola. E desejosa de que o começo de cada dia seja um sim à verdade, que torne fértil o terreno do meu coração.

Madalena Fontoura

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