13 de setembro de 2016

Há muitas coisas que eu quero ver

Na Escola no Chiado, escolhemos como tema do ano uma frase retirada de um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen: Há muitas coisas que eu quero ver.

Rooms by the Sea, Edward Hopper, retirado daqui
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio 
E suportar é o tempo mais comprido. 

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade, 
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe. 

Há muitas coisas que eu quero ver. 

Peço-Te que sejas o presente. 
Peço-Te que inundes tudo. 
E que o teu reino antes do tempo venha. 
E se derrame sobre a Terra 
Em primavera feroz precipitado.

O começo de um ano lectivo é sempre um novo início: novos alunos, novas famílias, novos professores. É também um início de coisas antigas: novos desejos, novas ideias e novos olhares para os mesmos alunos, as mesmas famílias e os mesmos adultos com quem partilhamos a responsabilidade educativa.

Toda a experiência de início tem uma espécie de convite sedutor da realidade: vem, vem... Vem, que eu tenho muito para te oferecer. Mas... como começar coisas antigas? Como olhar para os mesmos rostos, que já conhecemos, já sabemos, já definimos?

Precisamos de começar por nos perdoar a nós e aos outros por tudo o que fizemos mal, tudo o que nos fizeram mal. Sem o perdão, sem a misericórdia, sem abraçar as misérias dos outros no nosso coração, não é possível dar um passo novo. E a própria Maria Ulrich nos desafia todos os anos a dar um passo, o mesmo passo sempre renovado. Assim vivemos, assim crescemos, assim convivemos (…), procurando acertar critérios, encontrar soluções melhores, sem excluir controvérsias e desacordos, no respeito mútuo e na confiança recíproca».

Para viver assim, crescer assim, conviver assim, é preciso abrir a porta à hipótese que os outros, diferentes e estranhos ou semelhantes e amigos, não sejam instrumentais mas, antes, representem uma possibilidade de bem para a minha vida.

Escreveu o Papa Francisco ao Meeting Rimini 2016 que (...) muitas vezes cedemos à tentação de nos fecharmos no horizonte limitado de nossos próprios interesses, de modo que os outros se tornam algo de supérfluo ou, pior ainda, um incómodo, um obstáculo. Mas isto não é conforme à nossa natureza: desde criança descobrimos a beleza do laço entre os seres humanos, aprendemos a encontrar o outro, reconhecendo-o e respeitando-o como o interlocutor e como o irmão, pois filho do Pai comum que está nos céus. Por sua vez, o individualismo afasta das pessoas, vê sobretudo os limites e os defeitos, enfraquecendo o desejo e a capacidade de uma convivência em que cada um possa ser livre e feliz em companhia dos outros com a riqueza da diversidade deles (...).

Poderia ser uma boa definição de escola: uma convivência que me ajude a ser livre e feliz, com a riqueza da diversidade que os outros trazem à minha vida e, assim, ser introduzido à beleza da descoberta do mundo, dos nomes das coisas, das medidas, das características e das relações entre o que existe...! 

Bom ano a todos!
Catarina Almeida

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