24 de novembro de 2015

Entrevista | Só assim se reeduca a Europa, o Mundo

Foi no discurso ao Congresso Mundial promovido pela Congregação para a Educação Católica que o Papa Francisco voltou a testemunhar a sua paixão pela educação.
 
Entrevistámos a professora Isabel Pestana de Andrade, participante portuguesa no Congresso que decorreu no dia 21 de novembro em Roma, a quem agradecemos a disponibilidade para conversar connosco.
 
Isabel, que aspectos da sua ida ao Congresso Mundial da Educação Católica gostaria de destacar?
Encontrar mais de duas mil pessoas, vindas de todos os continentes com a mesma missão, com a mesma paixão educativa é algo que não nos deixa indiferentes. Não encontrei uma multidão, encontrei um povo. Estarmos juntos com a mesma finalidade, com o mesmo objectivo, com o coração uno, mas, ao mesmo tempo, cada um com a sua marca cultural e ambiental. Foi experimentar e viver o que é a Igreja.
Por outro lado, os temas abordados foram muito pertinentes e actuais, com a plena consciência de que a Educação abrange e abraça a totalidade de vida. Com a consciência que se educa hoje para o futuro e, por isso, a necessidade de se estar atento, ter intuição e sentido crítico. Para mudar a Europa e o Mundo é preciso um coração criativo para construir cultura.
 
O pensamento do Papa Francisco dedica uma especial atenção à cultura do encontro. O que quer dizer esta cultura em educação, especialmente nos tempos que vivemos?
O Papa falou na necessidade de uma educação de emergência. Esta educação consiste em ir ao encontro do aluno, das suas necessidades. Ensinar não só com a cabeça, mas também com o coração e com as mãos. Arriscar novos caminhos, arriscar racionalmente. Valorizar mais a educação informal, recorrer a áreas diferentes; o Papa falou do Desporto e da Arte como exemplos de educação não formal que podem responder aos novos desafios.
Esta cultura do encontro também está patente no desafio que fez à escola católica, para ser inclusiva. Ser inclusiva porque valoriza a proximidade e diálogo entre todos, principalmente entre os professores, alunos e suas famílias. Esta proximidade é resposta ao desejo comum de unidade e a unidade é inclusiva.
 
Ainda nesta atenção à cultura do encontro, e na mesma linha que nos tem desafiado a todos, desafiou-nos a ir para as periferias. «Deixar o lugar onde estamos instalados - não posso deixar de referir que, neste momento, com humor continuou: todos não, metade... - e ir para onde há uma humanidade ferida, não só fazer caridade, matar a fome, isso também, mas curar as feridas da humanidade. A nossa salvação vem de um homem ferido na Cruz. Fazer caridade mas fazer educação de emergência. Este é o desafio, isto é ser capaz de mudar o mundo. O pior que podemos fazer é defendermo-nos. Isto é educar dentro de uma trincheira». Só assim se reeduca a Europa, o Mundo.
 
O Papa falou com assertividade sobre a tentação actual de educar para as coisas imanentes, esquecendo a transcendência. O que pode partilhar connosco sobre este tema?
O Papa falou da necessidade de uma relação com o transcendente, de uma relação com o Mistério. Mas nunca rejeitou as coisas concretas. Pelo contrário, começou por dizer o que faz uma escola ser verdadeiramente católica e foi bastante claro relativamente a este assunto. Citando um grande educador, disse, «Educar é introduzir à realidade total. Não se pode falar em educação católica sem falar de humanidade. É fazer crescer os jovens na humanidade, dentro da realidade e do Mistério que ela encerra. …É dentro da realidade e da relação com este Mistério que o Senhor se revela. Isto é educar à realidade total. Quem não vive assim não pode educar».
 
O discurso integral do Papa Francisco aqui.

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