Foi no discurso ao Congresso Mundial promovido pela Congregação para a Educação Católica que o Papa Francisco voltou a testemunhar a sua paixão pela educação.
Entrevistámos a professora Isabel Pestana de Andrade, participante portuguesa no Congresso que decorreu no dia 21 de novembro em Roma, a quem agradecemos a disponibilidade para conversar connosco.
Isabel, que
aspectos da sua ida ao Congresso Mundial da Educação Católica gostaria de
destacar?
Encontrar mais de duas mil pessoas, vindas de todos
os continentes com a mesma missão, com a mesma paixão educativa é algo que não
nos deixa indiferentes. Não encontrei uma multidão, encontrei um povo. Estarmos
juntos com a mesma finalidade, com o mesmo objectivo, com o coração uno, mas,
ao mesmo tempo, cada um com a sua marca cultural e ambiental. Foi experimentar
e viver o que é a Igreja.
Por outro lado, os temas abordados foram muito
pertinentes e actuais, com a plena consciência de que a Educação abrange e
abraça a totalidade de vida. Com a consciência que se educa hoje para o futuro
e, por isso, a necessidade de se estar atento, ter intuição e sentido crítico.
Para mudar a Europa e o Mundo é preciso um coração criativo para construir
cultura.
O
pensamento do Papa Francisco dedica uma especial atenção à cultura do encontro.
O que quer dizer esta cultura em educação, especialmente nos tempos que vivemos?
O Papa falou na necessidade de uma educação de
emergência. Esta educação consiste em ir ao encontro do aluno, das suas necessidades.
Ensinar não só com a cabeça, mas também com o coração e com as mãos. Arriscar
novos caminhos, arriscar racionalmente. Valorizar mais a educação informal,
recorrer a áreas diferentes; o Papa falou do Desporto e da Arte como exemplos de
educação não formal que podem responder aos novos desafios.
Esta cultura do encontro também
está patente no desafio que fez à escola católica, para ser inclusiva. Ser inclusiva
porque valoriza a proximidade e diálogo entre todos, principalmente entre os
professores, alunos e suas famílias. Esta proximidade é resposta ao desejo
comum de unidade e a unidade é inclusiva.
Ainda nesta atenção à cultura do
encontro, e na mesma linha que nos tem desafiado a todos, desafiou-nos a ir
para as periferias. «Deixar o lugar onde estamos instalados - não posso deixar
de referir que, neste momento, com humor continuou: todos não, metade... - e ir
para onde há uma humanidade ferida, não só fazer caridade, matar a fome, isso
também, mas curar as feridas da humanidade. A nossa salvação vem de um homem
ferido na Cruz. Fazer caridade mas fazer educação de emergência. Este é o
desafio, isto é ser capaz de mudar o mundo. O pior que podemos fazer é defendermo-nos.
Isto é educar dentro de uma trincheira». Só assim se reeduca a Europa, o
Mundo.
O
Papa falou com assertividade sobre a tentação actual de educar para as coisas
imanentes, esquecendo a transcendência. O que pode partilhar connosco
sobre este tema?
O Papa falou da necessidade de uma relação com o
transcendente, de uma relação com o Mistério. Mas nunca rejeitou as coisas
concretas. Pelo contrário, começou por dizer o que faz uma escola ser
verdadeiramente católica e foi bastante claro relativamente a este assunto.
Citando um grande educador, disse, «Educar é introduzir à realidade total. Não
se pode falar em educação católica sem falar de humanidade. É fazer crescer os
jovens na humanidade, dentro da realidade e do Mistério que ela encerra. …É dentro
da realidade e da relação com este Mistério que o Senhor se revela. Isto é
educar à realidade total. Quem não vive assim não pode educar».
O discurso integral do Papa Francisco aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário