Estavam na fila da frente na
Missa de Domingo: Mãe e três filhos pequenos, todos rapazes. Com o Pai ausente,
a Mãe tinha todas as razões do mundo para ter faltado à Missa, ou para não ter
levado os filhos. Mas ali estava, impecável, com o sorriso sereno de quem foi
convidada para uma festa e está feliz por comparecer.
Ao fim de poucos minutos, começou
tudo. O miúdo do meio, com aquela cara de rapaz levado da breca, sempre a
aprontar alguma, começou a mexer-se no banco, de forma cada vez mais
irrequieta. Virava-se para trás, levantava-se, trepava, fazia sinalefas aos
meninos do banco de trás, seus conhecidos, metia-se com os irmãos, mexia em
tudo.
Entretanto, o mais novo, que
teria uns dois anos, também requeria a atenção total, para não cair, não bater
com a cabeça no banco da frente, não despejar a carteira da Mãe, não fazer
barulho. Sossegado, só mesmo o mais velho, que resistia heroicamente às
provocações do segundo, que parecia querer convocar todos para a sua
movimentação.
A Mãe não teve um minuto de
descanso. Agia com prontidão, doçura e discrição. Os seus esforços, apesar de
sábios e incansáveis, tinham uma eficácia de curtíssima duração. Cada filho que
ela punha em ordem, segundos depois, tinha uma ideia nova, mexia-se para outro
lado, agarrava noutra coisa. Ou então voltava a fazer o mesmo que a Mãe já
tinha corrigido, dois disparates atrás. Mas ela não teve nenhum gesto brusco,
que denunciasse qualquer exasperação. E também em nenhum momento desistiu, deixou
correr ou desligou.
Tratou cada um, segundo a sua
condição. Ao mais novo foi amparando e soltando, sem colo a mais nem a menos,
dando a dose justa de protecção e sem se distrair a mimá-lo ou a deleitar-se
com as suas gracinhas. Ao do meio foi corrigindo, umas vezes com o olhar,
outras com gestos firmes mas doces – endireitando-o, sentando-o, puxando-o para
si – outras ainda com pequenas instruções ao ouvido. A todas as pessoas,
respeitou com o seu silêncio, a contenção dos seus gestos e dos seus movimentos,
a serenidade da sua expressão.
Se a temperatura da sua paciência
tivesse subido até ferver e ela tivesse tido uma atitude mais enérgica, teria
havido um estardalhaço de choros, de abandono aparatoso da Igreja, de pessoas a
terem que ajudá-la a levar tudo e todos. Nada disso aconteceu. Talvez porque
aquela Mãe nunca se deteve em si mesma, no seu limite, no seu cansaço, no seu
direito a ter sossego. E por isso, prevaleceram o amor, a paciência, a
misericórdia, o serviço. Mas prevaleceu também ela mesma, a sua humanidade,
inteira, despojada e feliz.
Num tempo de emergência
educativa, na família e na escola, aquela Mãe, na sua discreta normalidade, era
um tratado de pedagogia. Na aproximação da Páscoa e do sacrifício de Jesus
pelos pecadores, na certeza, reafirmada pelo Papa, da misericórdia com que
somos amados e esperados, a homilia da Missa era aquela Mãe.
Começo a semana, pedindo para mim
um coração centrado no essencial, sustentado pela certeza de que sou amada e
perdoada. Para que possa olhar assim para os alunos, os professores e as
famílias com quem trabalho. E, dando tudo, me encontre, também eu, inteira,
despojada e feliz.
Madalena Fontoura
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