17 de março de 2015

Do meu colega Papa Francisco, por Madalena Fontoura

No sábado passado, o Papa falou a uma associação de professores italianos. Um discurso muito caloroso, que visita os temas que lhe são mais queridos, do amor que acolhe, à preferência pelos mais fracos, passando pelo testemunho de uma humanidade madura e completa.
O Papa chama-nos colegas, porque também ele guarda boas recordações do tempo em que foi professor. É um trabalho belíssimo ver crescer os que estão confiados ao nosso cuidado. Somos como Pais, diz o Papa, sublinhando que ensinar é uma tarefa séria, que requer uma personalidade madura e equilibrada.
Mas não há que temer, porque um professor nunca está sozinho, partilha o seu trabalho com outros professores e com toda a comunidade educativa a que pertence. O mundo muda, a escola muda, diz o Papa, mas há sempre professores cristãos dispostos a empenhar-se na sua profissão com aquele entusiasmo e aquela disponibilidade que a fé no Senhor nos dá.
Como Jesus nos ensinou, toda a Lei e os Profetas se resumem a dois mandamentos: ama o Senhor teu Deus e ama o próximo. E quem é o próximo de um professor? – pergunta o Papa e responde: o próximo são os seus alunos. É com eles que passa os dias. São eles que esperam dele uma condução, um destino, uma resposta – e, antes de mais, boas perguntas!
O Papa apela a uma justa ideia de escola, que além de uma instrução válida e qualificada, é feita de relações humanas de acolhimento e benevolência para com todos. Todos, mas especialmente os mais difíceis, os mais débeis, os mais desfavorecidos. Se amamos só os que estudam, os que são bem-educados, que mérito temos? Qualquer professor está bem com esses. O Papa pede-nos para amarmos mais os que nos fazem perder a paciência!
O que é este chamamento de um professor cristão a não abandonar as periferias da escola à marginalidade, à ignorância, à má vida? A receita do Papa é que a escola seja um ponto de referência, com professores que dão sentido ao estudo e à cultura. Trata-se de não reduzir tudo à transmissão de conhecimentos, mas construir uma relação educativa com cada aluno, que deve sentir-se acolhido e amado pelo que é, com todos os seus limites e potencialidades.
O Papa indica três coisas a transmitir, que requerem um bom professor e que um computador não pode ensinar: compreender como se ama, quais são os valores da vida e quais os hábitos que criam harmonia na sociedade. As escolas, estatais ou privadas, precisam de educadores credíveis, que dêem testemunho de uma humanidade madura e completa. Testemunho, sublinha o Papa, que não se compra nem se vende, dá-se.
É importante a actualização de competências didácticas e tecnológicas, mas o ensino, diz o Papa, é uma relação em que o professor deve sentir-se inteiramente envolvido como pessoa. E encoraja-nos a renovar a nossa paixão pelo homem no seu processo de formação, e a sermos testemunhas de vida e de esperança. Não se pode educar sem paixão, garante o Papa.
Começo esta semana animada pelo amor com que o Papa descreve a minha missão. E especialmente provocada por estas palavras com que termina o discurso: “Nunca, nunca fechem uma porta, escancarem todas, para que os alunos tenham esperança”.

Madalena Fontoura

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