9 de janeiro de 2015

Educar Ensinando | Ensinar História hoje. Para quê?

Tenho uma filha de 17 anos que está este ano nos EUA a fazer o 12º ano. Ligou-me pedindo ajuda para um trabalho que tinha que elaborar para a disciplina de História onde teria que dissertar acerca do que significava para ela ser patriota. Perguntava-me o que é que havia de dizer sobre isto. Parece que o professor lhe tinha dito que ela, como portuguesa, tinha a obrigação de fazer um bom trabalho. Para o professor, americano, é óbvio que um português tem muito a dizer e muito de que se orgulhar em ser português. Mas para a minha filha, portuguesa, as razões não eram tão claras...
Perguntando no dia seguinte aos meus alunos o que significava para eles ser patriota, deparo-me com o mesmo cenário. “Sim somos”, porque sentem que pertencem a qualquer coisa, mas a quê e porquê? Silêncio. Dei por mim a pensar, como professora de História… Eles aprenderam e sabem os factos que configuram a nossa História, uns melhor outros pior, mas conhecem. A afirmação da nacionalidade de Portugal, a única nação a manter-se independente da Espanha em toda a Península Ibérica; a descoberta de novas terras e oceanos levada a cabo durante todo o processo de expansão; o desenvolvimento científico e tecnológico que este empreendimento implicou; o domínio de  um império durante seis séculos; o relacionamento com outros povos e religiões e o cristianismo, levado pelos portugueses aos quatro cantos do mundo; a nossa cultura, presente em tantos e tão variados cantos do mundo e os traços que dela se podem encontrar em realidades tão diferentes como a indiana ou a japonesa; os primeiros passos dados por Portugal no sentido da globalização e o facto de se falar português em quatro continentes e ser a terceira língua europeia mais falada em todo o mundo; a resistência à tentativa napoleónica de eliminar Portugal como Estado; a bravura dos nossos soldados na I Guerra Mundial e o facto de Portugal ter sido a única nação atlântica, no continente europeu, a não ser ocupada pelos nazis; que era através de Lisboa que a Cruz Vermelha Internacional transferia o correio dos detidos de cada lado do conflito para as respectivas famílias; que um português, Aristides de Sousa Mendes, salvou 30 000 judeus dos nazis… 
Mas que significado tem para eles esta sucessão de factos? Olhando para as partes, consigo ajudá-los a ver o todo? Aquilo que lhes ensino, ajuda-os a olhar para a realidade como um todo? De que forma a tradição de que são herdeiros influencia  a forma como olham para o mundo, para as pessoas, para eles próprios? O que significa fazer parte de um povo? O que é que o passado e o presente têm a ver com cada um deles? Como é que eu me coloco diante dos meus alunos cada vez que entro numa sala de aula para lhes falar de acontecimentos que se deram há décadas ou séculos atrás? Vou discorrer sobre um conjunto de factos que eles têm que memorizar? Vou desenvolver a capacidade de relacionarem factos entre si? Porquê? Para quê? Desenvolver conteúdos e competências apenas? De que lhes serve, se diante da pergunta “porque amas a tua pátria?” não têm resposta? Como despertar a consciência de uma correspondência entre aquilo que lhes ensino e aquilo que eles são?
Não sei que nota terá a minha filha filha neste trabalho, mas sei que esta questão a fez pensar… A ela e a nós, seus pais e irmãos. E isso é o que mais importa.

Joana Abecasis Correia

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