29 de setembro de 2015

Do espanto... à compreensão!, por José Feitor

Ao longo destes anos a trabalhar com adolescentes, tenho sido surpreendido com as maravilhas que eles me impelem a fazer e, ao mesmo tempo, a dar de caras com as fragilidades que tenho perante o desejo deles em querer mais.
 
Eclipse 27 Set, fotografia de Carolina Taveira
Todos os anos peço aos alunos que se deixem espantar por um qualquer fenómeno natural que observem, e que desejem compreender. Para isso, dizemos nós, devem formular uma pergunta e desenvolver um plano experimental para encontrar a resposta. Os “melhores trabalhos” são depois apresentados numa sessão solene a um painel de cientistas, onde são confrontados com questões sobre o trabalho que desenvolveram. Simples!!!
 
Nesta primeira semana de aulas o Bernardo veio ter comigo para me apresentar a sua pergunta. Na minha cabeça estava já tudo bem estruturado que já sabia o que havia de responder, sem sequer ouvir a pergunta: ele vai dizer o que quer fazer e eu vou já questioná-lo sobre o modo como surgiu a questão, qual a hipótese, que experiência é que ele me vai descrever, as variáveis que quer estudar…
 
«Professor, tenho uma pergunta para a Feira da Ciência mas já sei que o professor me vai dizer que não serve…».
 
Levei um soco no estômago. De repente, aquele miúdo de 13 anos, que só me conhecia desde quinta-feira, vinha apresentar-me o seu projecto e começa logo por dizer que eu não o vou aceitar porque não encaixa no “método científico”. Voltei tudo atrás, desliguei o quartel-general cerebral e fiquei apenas a ouvi-lo, sem o questionar em nada.
 
A pergunta é excepcional.
 
Talvez não o seja pelos parâmetros que estavam já definidos na minha cabeça, mas o Bernardo observou um fenómeno e deseja compreendê-lo. Não o posso recusar.
 
Saí daquela sala engasgado, envergonhado. Quantos miúdos não se aproximaram de mim porque pensaram «já sei que o professor me vai dizer que não serve…».
 
Deixo-vos esta provocação: será que levamos a sério as perguntas que nascem de um desejo de verdade dos nossos alunos? Ouvimos sequer o que eles nos perguntam?
 
José Feitor

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